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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Vegetais e agricultura"

Inquérito 0287

Locutor 345
Sexo feminino, 37 anos de idade, pais não-cariocas
Profissão: professora de artes
Zona residencial: Norte

Data do registro: 18 de junho de 1975
Duração: 46 minutos


Clique aqui e ouça a narração do texto


L
 E o vegetal é assim, a gente vive querendo vegetal, querendo vegetal dentro de casa e não, não consegue porque a gente bota planta a empregada esquece de molhar a planta, a gente compra planta e a planta acaba e vão morrendo, quando a gente está pensando que a planta está assim ótima, florescendo, as folhas começam a amarelecer e, e acaba morrendo. Então é água demais ou falta dágua sempre influi muito a ... Também é falta de sol dentro de casa, sabe, que aqui não bate sol absolutamente nada. De manhã, bom, ne... nem de manhã nem, nem à tarde. No quarto dos fundos ainda bate um pouquinho, então como última, não é, última assim boa vontade pra elas melhorarem eu coloquei um monte de plantas lá na janela do quarto dos fundos onde bate mais sol. Aí elas realmente melhoraram ma... assustadoramente. Uma violeta, conhece?
D
 Conheço.
L
 Conhece uma violeta que dá lá em Petrópolis? Nós trouxemos de lá, elas estavam na, na área de serviço, então com as pontas amarelinha, assim tudo fraquinho, tudo as... bem, bem assim fracas. Então depois que eu botei na, na janela com sol, aquela, aquele sol assim filtrado tipo, tipo estufa, então elas, ah, mudaram de cor e mudaram a textura das folhas. A textura começou a ser assim meia crespa, sabe, toda assim mais forte, mais bonita, mais viçosa, então deu certo. Pelo menos essas plantas que estão lá no quarto dos fundos elas estão crescendo lá tranqüilas e, e viçosas. Agora essas daqui estão assim há pouco tempo, então vamos ver como é que elas vão ficar.
D
 E quais os tipos de planta que você tem lá no seu quarto? Você saberia dizer o nome (sup.)
L
 (sup.) Não (sup.)
D
 (sup.) Você falou violeta (sup.)
L
 (sup.) Não, o nome científico eu sei só ... Tem esses dois tipos de violeta que vieram lá de Petrópolis, assim com a folha aveludada e tem um tipo assim de flor-de-maio que é uma flor que é, que ela vive em função do cáctus, conhece?
D
 Não.
L
 Não? A gente corta o cáctus, dá uns talhos no cáctus e faz u... um enxerto. Então enfia a, as folhas da flor-de-maio que são, são, é uma planta composta de folhas apenas, é folha sobre folha, sobre folha, não tem caule, o próprio, a própria folha já é o caule. Então a gente enfia aquelas folhas dentro do cáctus e quando ele cicatriza eles aderem um ao outro e ela se alimenta exclusivamente do líquido do cáctus e a gente pode não molhar (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) Molha muito pouco, mas molha a terra onde está o cáctus sabe (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) Bom, aí depois então ela es... eu espero que ela dê flor. Na casa da minha mãe, quando eu era pequena, dava flor. É uma flor assim diferente (tosse) muito bonito com, assim, cor-de rosa. Também não sei qual é o tipo de flor que essa daí me veio, né? Assim (sup.)
D
 (sup.) Sei. Então e além da violeta, da flor-de-maio (sup.)
L
 (sup.) É (sup.)
D
 (sup.) Você tem mais alguma coisa (sup.)
L
 (sup.) Não (sup.)
D
 (sup.) Que você possa dizer (sup.)
L
 (sup.) Tenho umazinha, uma planta aquática, também não sei o nome, eh, ela dá uns filhotinhos, se rep... se reproduz assim por meio de, de mudas, né? E dentro dágua ela está bem, bem verdinha. Tem essa outrazinha aí dentro dágua também, mas essa não está lá no quarto, está aqui na, na sala dentro dágua. Eu prefiro as fol... as plantas que ficam dentro dágua, eh, do que as que ficam na terra, porque elas são mais fáceis de, elas não, não precisam de uma, de, de muita água, não suja tudo em volta, não umedece o chão e a gente tem uma, uma casa assim com planta e sem, sem sujar o chão, sem molhar o chão todo, né? Então a planta fica dentro dágua, fica dentro de vidro assim pra, pra proteger. Lá fora tem mais uma (ruídos/inint.) de plantas, tem batata-doce que é a coisa que dá melhor dentro de casa, eu acho que ainda é a batata-doce, sabe? A gente plan... pode plantar dentro dágua ou plantar na terra. Na terra, lógico, né, ela fica linda assim floresce, dá aquelas ramas grandes e tudo. Agora dentro dágua sempre dá uma, uma dificuldadezinha, está lá, né, com espadinha de-São-Jorge, essas plantinhas (sup.)
D
 (sup.) Você mora num bairro que não é um bairro só de asfalto (sup.)
L
 (sup.) É, tem realmente (sup.)
D
 (sup.) Tem árvore em volta (sup.)
L
 (sup.) É, realmente. Aqui, aqui em volta nós somos beneficiados por muita vegetação, né (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) E é bem fresquinho e tudo também por conta desta, desta vegetação (sup.)
D
 (sup.) É perto mesmo de quê? Aquela subida vai dar aonde?
L
 Tem pro Alto da Boa Vista, né? É a subida pro Alto da Boa Vista que vem essa, essa ventilação toda bem oxigenada, (tosse/risos) bem oxigenada. Tem aí o colégio São Jos'e, de vez em quando a gente passeia lá dentro, leva as crianças lá pra dentro e (sup.)
D
 (sup.) Quando a gente sobe o Alto da Boa Vista, a gente chega a um lugar de passeio. Como é o nome mesmo (sup.)
L
 (sup.) Tem. É a praça Afonso Vizeu.
D
 Aí depois a gente entra lá pro (sup.)
L
 (sup.) Tem a Cascatinha, tem a, a, é a mata da Tijuca, né? É a mata da Tijuca, tem Paulo e Virgínia, Cascatinha. Nós sempre vamos lá passear, né? Tem aqueles riachinhos, aquelas, eh, cascata do Taunay e várias ... E lá a gente se esbalda de ver planta, né?
D
 De ver planta ou ver o que mais?
L
 Planta, mato e céu, natureza. O que mais? (risos) Terra, água (sup.)
D
 (sup.) Você poderia dizer que tipo de planta você vê lá?
L
 Bom, a mata é mais assim fechada, mais, mais agreste.
D
 Se compõe de quê, a mata?
L
 Árvores, árvores grandes, eu não sei o nome das árvores, eu sou meia avessa ao latim, sabe (sup.)
D
 (sup.) Sei. Alguma especial que você lembra assim o nome?
L
 Não, não me lembro não (sup.)
D
 (sup.) Há época que a gente sobe e vê só o verde da mata e há outras épocas em que a gente sobe e vê (sup.)
L
 (sup.) É, tem imbuia, tem ipê, ipê (sup.)
D
 (sup.) O que que acontece com os ipês (sup.)
L
 (sup.) E quaresma, e quaresma que no, durante a quaresma ela fica roxinha e o ipê também nessa mesma época ele fica amarelinho, dá flor amarelinha. Lá também tem aquela flor cor-de-rosa, tem jamelão que dá flor e dá fruto, né, que é aquele cor-de-rosa, tem uma outra cor-de-rosa também, paineira. Que mais que tem no, na mata da Tijuca? Olha eu acho que só. Tem muita dessa planta aí que eu não sei o nome dela. Dá muito assim na (sup.)
D
 (sup.) Como é que é essa planta? Descreve pra gente.
L
 É, é um, são galhos assim finos que têm folha verde na ponta. Caules, né, bem fininhos e quando a gente corta, eles se desdobram (sup.)
D
 (sup.) É?
L
 É. É, quando corta, ele se desdobra. Então se a gente seccionar o caule em várias partes, ele vai, ele vai brotando à medida que, que a gente vai colocando o caule seccionado dentro dágua ou na própria terra mesmo. E tem essas, musgo, plantas aquáticas. (tosse)
D
 Se você, aqui pela rua, tem árvores por essa rua (sup.)
L
 (sup.) Não, aqui não. Acho que na, na cidade toda, né, é raríssimo, só mesmo no Grajaú é que tem árvore plantada em rua, porque aqui eles usam essas jardineiras, essas pseudo-jardineiras que são muito fracas assim, anti-estéticas, isso é um anti cachorro, anti-carro, anti-criança que dá, eh, só serve pra atrapalhar, porque demarcar mesmo o lugar pra pedestre passar é uma coisa que não (sup.)
D
 (sup.) Se você tivesse um terreno. Você tem alguma casa (sup.)
L
 (sup.) Ah, temos.
D
 O que vocês plantam lá?
L
 Ah, nós temos lá em Muriqui. Bom, não foi assim muito ao meu gosto, mas foi ao gosto da minha mãe. Então ela comprou ipê, comprou jucá, conhece jucá?
D
 Não. Como é?
L
 Heim? Jucá é uma árvore grande, entendeu, que ela parece um pouquinho com a goiabeira porque também des... o caule também descasca, mas ela dá fava e dá uma flor e a fava posta em infusão no álcool dá um hemostático. É, um hemostático poderoso, sabe? Então o meu pai como veterinário, ele usa esse hemostático em, nos animais, cachorro, gato e às vezes em gente também porque funciona. Quando é assim, uma hemorragia assim de garganta e tudo, que a gente faz um bochecho com, com esse jucá dissolvido em água é fabuloso porque estanca mesmo o sangue, é um alto poder curativo. Não é descoberta dele não, sabe (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) Isso na medicina homeopática é muito usado mesmo, tem e então foi plantado esse jucá lá em Muriqui, foi colocado lá uma, uma unha-de-vaca que eu fiz a graça de matar, porque eu fui matar formiga e matei as formigas e a, e a árvore também. Então aí nós substituímos por um flamboiã, já está grande e frondoso lá, já não se sente mais a falta da unha-de-vaca, porque é, é unha-de vaca porque a folha se assemelha a uma impressão digital da vaca, né? A impressão da, da unha da vaca.
D
 E é planta ou é árvore? Como é o aspecto (sup.)
L
 (sup.) É árvore (sup.)
D
 (sup.) Ah, é árvore (sup.)
L
 (sup.) É, é sempre árvore. Nós temos várias árvores lá assim grandes mesmo pra sombrear o, o terreno. Tem a unha-de-vaca, tem ipê, tem café, é, tem um pezinho de café. Tem, uma planta amarela, eh, como é o nome da planta amarela? Uma que dá um cacho até. Acácia! Uma acácia amarela linda que é aquele sol dentro de casa, né? Mesmo, o dia pode estar chovendo, a gente vê aqueles, aqueles cachos da, da acácia amarela, então é aquele sol assim. Lindo! Então tem duas goiabeiras praí pro, pro garoto trepar nas goiabeiras e comer goiaba, porque a goiaba nunca é, tem uma, a goiabeira nunca tem goiaba boa mesmo, né? Ou está podre ou está bichada, mas tem uma branca e tem uma vermelha pra constar ou não. Tem pé de abacate, tem ... Acho que só. Tem jasmim-manga que é um jasmim muito bobo com uns galhos muito feios, mas eu não sei por que que tem lá. Tem uma tal de asa-de-barata. Barba-de barata, não é asa não (sup.)
D
 (sup.) Como é isso? (sup.)
L
 (sup.) É barba-de-barata. Olha (sup.)
D
 (sup.) Qual o aspecto dela?
L
 O aspecto? É arbusto miúdo assim no máximo um metro, eu não sei se só ficou com um metro porque não se deu bem lá na beira do mar ou por, não sei por quê. É um arbusto de folhas miúdas e a folha, a flor é vermelhinha, assim tipo brinco-da-princesa, conhece? O brinco-da-princesa que tem depois umas barbinhas saindo do meio? Eu acho que é por causa daquela barbinha que ela tem o nome de barba-de-barata (sup.)
D
 (sup.) Sei (sup.)
L
 (sup.) O brinc... (sup.)
D
 (sup.) Você falou em muitas árvores que há lá (sup.)
L
 (sup.) Hum (sup.)
D
 (sup.) E outro tipo de plantas assim que você tenha plantado lá (sup.)
L
 (sup.) Outro tipo de plantas assim? Só espada-de-São-Jorge numa, numa jardineira, na frente tem azaléas, tem bico-de-papagaio que eu plantei e eu nem sei se, estava tão feio, eu não sei se continua lá em pé e outras. Tem umas graminhas, tem espada-de São-Jorge pequena, da, da de folhas pequenas, tem umas outra folhagens assim de folha, folha copada e baixinhas, no chão, que eu também não sei o nome e a gente procura evitar que dê mato e grama assim entre as árvores, então nós compramos sempre areia e colocamos entre as árvores e capinamos e capinamos. Também tem taioba (sup.)
D
 (sup.) Ôpa!
L
 Sabe, taioba é uma folha muito gostosa. Quando, eh, quando acaba os legumes da nossa, que nós levamos de, de casa a gente passa a mão nas taiobas, né, e lava bem lavadinha e faz refogada e se (conversa paralela/sup.)
D
 (sup.) Que tipo de legume você gosta?
L
 Ah, de legume acho que praticamente que todos, sabe? A gente come aqui até jiló, a família toda come. É cenoura, chuchu, couve flor, vagem, beterraba. Todo dia tem uma salada fria assim com beterraba, couve-flor, eh, cenoura, tomate e tem um legume quente, pode ser chuchu, pode ser berinjela. Nós comemos de todos os legumes assim, a família assim que varia na base do, do legume.
D
 Você informou aqui na ficha que você fez viagens pelo Brasil (sup.)
L
 (sup.) Fiz (sup.)
D
 (sup.) O que que você pode dizer da vegetação de per... de zona pra zona, de estado pra estado e (sup.)
L
 (sup.) Bom, o que eu conheço mesmo assim, São Lourenço que tem uma vegetação linda, tratadíssima e lá eles conseguem milagres com as plantas, né? E a grama é assim maravilhosa, coisa que a gente não consegue em outro lugar. Mas eles vivem catando a grama, tratando e tirando mesmo as tiriricas que são umas, umas erva-daninhas (sic) que dão entre a grama. Então eles tiram muito daquilo e, e são muito tratados, tem estufas e tudo. Então eles colocam as plantas em vasos e vão al... eh, as plantas ficam na estufa, quando a planta está bonita eles pegam aquele vaso, levam pro jardim e substitui, o que está feio leva pra estufa pra ser sempre tratado. Então é uma maneira de conseguir um jardim sempre florido, sempre em forma de ser apresentado. Fora aquelas outras plantas que já estão plantadas lá mesmo e aí tem carvalho, tem, até um carvalho português tem lá em São Lourenço e tem os nomes específicos, os nomes, né, assim científicos de cada uma, tudo bonitinho e a gente olha lá e tudo, vê pau-brasil. Heim? (conversa paralela)
D
 Pau-brasil e o que mais?
L
 Pau-brasil (risos) depois do pau-brasil tem bambu de diversas, de diversas qualidades, do verde, do verde e amarelo, de um verde mais claro, dos, dos miúdos e daqueles grossões que servem pra fazer garrafa, né, que eles fazem, fazem assim uma espécie de um, uma garrafa pra botar cachaça (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) Que é muito usado lá. Eles cortam, deixam o espaço entre os nós pra fazer garrafa de cachaça e ... Ahn?
D
 Você tem alguma preferência assim por uma planta? Se você pudesse, o que você punha na sua casa, eh, de planta (sup.)
L
 (sup.) Ah, se eu pudesse o que eu plantava, meu Deus do céu! Queria ter uma jibóia, não, jibóia é o que tem, mais tem por aí. Mas eu queria da jibóia grande, sabe? Que eu pego a grande lá fora, boto dentro de casa ela fica miudinha, bo... trago a grande, trago a grande, mas sempre fica miudinha, não, não dá muito assim de ... Planta aqui dentro de casa é muito difícil mesmo, sabe? Mas mesmo assim eu sempre gostaria assim de ter assim uma macieira, hum, eh, que desse assim maçã mesmo. Mas a gente sabe que o clima do Brasil não se adapta a maçã, né?
D
 Você sempre morou em apartamento?
L
 Não. Eu morei em casa até os dezoito anos.
D
 E na sua casa tinha alguma fruta? (ruído forte de trânsito)
L
 Não. Tinha, tinha um limoeiro que po... pouco dava. Era a única fruta assim que tinha lá plantada era o limoeiro e tinha grama, tinha azaléa, tinha ficus, pêlo-de-urso. O que mais? Minha mãe procurava plantar muito, manacá e muita, muita planta. Mas também não sei se era por causa da terra, por causa da adubação, era difícil de dar assim com, com vigor assim as plantas.
D
 Você falou em adubação. Que ti... que modos a gente tem assim de (sup.)
L
 (sup.) De adubação (sup.)
D
 (sup.) De adubar a terra (sup.)
L
 (sup.) Bom, tem, tem modos de adubar com, com esterco, né, que pode ser de boi, pode ser de, de outros animais, de galinha e nós começamos até a fazer adubação com esterco de galinha, que nós tínhamos, tínhamos galinheiro em casa, mas a gente não sabia que, que ele tanto pode fazer bem como fazer mal, né? É (sup.)
D
 (sup.) Ah, é (sup.)
L
 (sup.) Quando se põe puro, ele queima a planta, mas queima assim de matar, da planta secar. Grama e tudo, se puser o esterco da galinha (sup.)
D
 (sup./inint.)
L
 (sup.) É, puro ele mata. Então ele teria que ser misturado com areia, com terra, pra fazer uma terra vegetal, porque a adubação de, é uma terra mais, uma terra assim vegetal e animal também com aquelas proteínas, né, do, do esterco da galinha que deve ter alguma proteína, pelo menos é um, é um produto animal. E também pode-se fazer adubação com folhas, folhas, cascas de legumes, pelo menos as minhas empregadas vivem descascando legumes e botando nas minhas plantas, né? Pra melhorar a terra, melhorar, mas não sei. Mas lá na, lá onde eu morava, na minha casa tinha algumas plantinhas.
D
 Você já teve oportunidade de visitar um lugar assim e ver algum trabalho com a terra?
L
 Trabalho com a terra? Não, a (sup.)
D
 (sup.) No estado do Rio, o tipo de paisagem assim de terra plantada, qual é, o que que planta nessa terra, normalmente se vê (sup.)
L
 (sup.) Não, sempre planta grama, né?
D
 Grama?
L
 Grama assim (sup.)
D
 (sup.) Mas assim pra produzir alguma coisa pro homem (sup.)
L
 (sup.) Ah, pra produzir? Plantação de banana. Lá em Muriqui tem uma plantação de banana, aliás na zona toda de, até Mangaratiba, a plantaç~ao de banana é fabulosa. Tem banana-dágua muito gostosas mesmo, boas e grandes. É uma zona assim de muito, acho que lá só produz mesmo banana, porque o resto (sup.)
D
 (sup.) Não há um outro tipo de árvore assim de frutas que dê (sup.)
L
 (sup.) Tem legume, mas eu acho que é pouca, sabe? Também tem aqui na baixada Fluminense, na, onde é a baixada de Jacarepaguá como quem vai daqui pra b... pela Barra da Tijuca, Rio-Santos, ali tem, tem muito legume, muitas (sup.)
D
 (sup.) Que tipo?
L
 Batata-doce, abóbora, aquela abóbora moranga, muito bonita que no norte chama jerimum, né? Assim até uma vez eu comprei um, um jerimum, botei dentro de casa aquela toda cheia de gomos. É muito bonita mesmo. Então eu levei aí uma porção de tempo até que ela começou a apodrecer. Pitanga, também tem lá umas arvorezinhas de pitanga, as pitangueiras. Mas tem gente que tem muito medo da pitangueira porque dá bicho, né? A gente pode comer a pitanga com bicho e tudo (risos) que não sente a diferença.
D
 Em termos gerais assim de Brasil (sup.)
L
 (sup.) Brasil (sup.)
D
 (sup.) O que mais caracterizaria assim a produção agrícola? Você falou em banana, né?
L
 Ah, banana, o café e a soja que exis... que não tinha até bem pouco tempo, até uns vinte anos atrás não tinha, foi trazido, né (inint.) não, deve ter trazi... ter sido trazido há uns cem anos atrás, mas de uns vinte anos pra cá é que teve mais assim interessados em produzirem a soja. Então está tendo (sup.)
D
 (sup.) Isso, isso mais no sul, não é?
L
 Mais no sul.
D
 Mas se você for pro nordeste o que que chama a atenção (sup.)
L
 (sup.) Ah, bom, no nordeste eu sinceramente eu nunca fui, mas já soube que no vale do São Francisco tem cebolas maravilhosas, são lindas, já vi filmes sobre isso e (sup.)
D
 (sup.) Se você for a Pernambuco, o que que você vai encontrar lá (sup.)
L
 (sup.) E dizem que agora em Pernambuco está dando uva. É uma coisa meio inacreditável, mas se disseram é porque está dando mesmo. Essa adubação e irrigação da terra da maneira, nos moldes do que fizeram lá em Israel, eles estão adubando a terra e irrigando a terra com canais naturais pra, e já conseguiram uvas e no filme que eu vi (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) Que eu só conheço mesmo essa parte do nordeste na base do filme, então na, eu vi assim campos de muitas plantas e muita uva, muito, muitos legumes, não me lembro quais legumes. Mas tinha legume e dizia que já havia fartura assim de comida no nordeste.
D
 Por essa parte já de irrigação que estavam fazendo (sup.)
L
 (sup.) É, essa parte (sup.)
D
 (sup.) O que que é muito antigo no nordeste em matéria de plantação? Que até caracteriza toda (sup.)
L
 (sup.) Caju (sup.)
D
 (sup.) Uma economia (sup.)
L
 (sup.) Caju? (sup.)
D
 (sup.) Caju em matéria de fruta (sup.)
L
 (sup.) Bom, caju, né? Mas o caju não é, não é plantação plantada, é uma plantação que, muito natural de beira de praia, né? (sup.)
D
 (sup.) Hum, hum (sup.)
L
 (sup.) E (sup.)
D
 (sup.) E na Bahia, o que que nós vamos ter lá (sup.)
L
 (sup.) Coco, né (sup.)
D
 (sup.) Coco?
L
 Coco da Bahia. Ah, realmente eu estive na Bahia. Vi caminhos assim extensos, assim cheios de coqueiros, coqueiros, coqueiros, muito bonito mesmo e eu gosto muito de doce de coco e (sup.)
D
 (sup.) Isso (sup.)
L
 (sup.) E tudo que leve coco, tudo que leve assim coisas assim (sup.)
D
 (sup.) E nessa zona do estado do Rio, de Campos, por exemplo?
L
 Bom, tem a cana-de-açúcar, né (sup.)
D
 (sup.) Hum, hum (sup.)
L
 (ruídos fortes/inint.) que é o (sup.)
D
 (sup.) Forte (sup.)
L
 (sup.) Forte. Pra gente também fazer o próprio doce, né? Juntar o coco da Bahia com a, junta o coco da Bahia com açúcar de Campos, né? Pra entrar no ramo dos doces. (risos) Sabe que com a, com os mesmos ingredientes a gente pode fazer vários doces? Com apenas coco, ovo e açúcar a gente pode fazer baba-de-moça, pode fazer cocada, pode fazer docinho duro, variando apenas a proporção entre os, os ingredientes. Bota mais o coco mais sólido, quer dizer, com mais bagaço com menos bagaço, ou apenas o leite de coco, dá a baba-de-moça. Quer dizer, faria desde a cocada à baba de-moça com os mesmos ingredientes.
D
 Sei. Aqui no Rio de Janeiro pelo menos você que é da Tijuca, como eu sou do Rio Comprido (sup.)
L
 (sup.) Ahn (sup.)
D
 (sup.) As casas antigamente tinham umas, uma porção de árvores de frutas (sup.)
L
 (sup.) Mangueiras, né? (sup.)
D
 (sup.) Quais os tipos que predominavam (sup.)
L
 (sup.) As mangueiras. Aliás na casa da minha avó que era um pouquinho mais aqui embaixo, na rua da Cascata, até é rua da Cascata, uma rua muito arborizada com oitis, tinha lá, tinha muita assim mangueiras, abieiros, laranjeiras, eh, limoeiros, pitangueiras, lá sim é que tinha mesmo. Eu acho que veio daí o gosto da minha mãe de, de ter muitas plantas e levar plantas lá pra Muriqui.
D
 Assim, em termos de inst... de instrumentos pra, pra trabalhar essa terra, as plantas e, e vegetação. Plantação (sup.)
L
 (sup.) Tratores, né? (sup.)
D
 (sup.) Plantação mesmo (sup.)
L
 (sup.) Tratores e, mas isso sinceramente eu não tenho (sup.)
D
 (sup.) E caseiro? A gente mexe com tanta coisa (sup.)
L
 (sup.) Cas... (sup.)
D
 (sup.) Assim por exemplo, no seu (sup.)
L
 (sup.) Cas... (sup.)
D
 (sup.) Pra cuidar do jardim da casa (sup.)
L
 (sup.) Ah, ancinho (sup.)
D
 (sup.) No sítio ou na sua terra. Como é que você faria pra tratar uma terra, que instrumentos você usaria?
L
 Bom, o que a gente usa normalmente lá assim na base do caseiro é ancinho, uma pazinha, uma colher, uma espécie de uma colher, né, que tem um cabo e que a gente mexe e outros assim instrumentos assim bem caseiros, bem rudimentares assim, arranjados. Chave de parafuso pra tirar tiririca, essas coisas que não é uma coisa por assim (sup.)
D
 (sup.) E quando a terra seca, como é que você faz, em casa?
L
 Bom, em casa a gente coloca água, né?
D
 Mas de que modo? Usando que instrumentos?
L
 Regadores e copo mesmo, quando não tem regador, vai no copo, vai na chaleira, qualquer coisa serve pra gente molhar a, a planta, e quando eu vou pra fora, eu pego assim várias bacias e pego meus vasinhos de plantas, todos aqueles que têm furo e coloco dentro dessa bacia, encho a bacia até a metade e deixo lá pra elas irem sugando a água. Agora, as outras de água eu coloco em, em potes maiores, em panelas maiores pra elas ficarem aí, assim, então, mas eu não saio muito assim além dos dez dias não, não passa. Então dá pra elas resistirem bem à falta, à minha falta de, pra molhá-las, né (sup.)
D
 (sup.) De cuidados, né (sup.)
L
 (sup.) Pois é.
D
 Em matéria assim de flor, o que você gosta mais de receber quando você faz aniversário?
L
 Sempre as rosas, né? Rosas assim amarelas, não são as vermelhas que eu gosto, são as amarelas, as rosadas, são bonitas. Que eu gostaria assim de ter flores assim em casa, sabe? Flores assim miudinha que desse, violeta. Mas assim dentro de casa não dá. Se bem que eu tenho lá meus pezinhos de violeta, estou esperando as florezinhas delas (sup.)
D
 (sup.) Um dia (sup.)
L
 (sup.) É.
D
 Que outras flores você gostaria ou, ou já teve em casa?
L
 Que eu já tive (sup.)
D
 (sup.) Ou tem (sup.)
L
 (sup.) Begônia. Begônia. Eu trouxe begônias lindas lá de Petrópolis, mas elas chegam aqui elas se ressentem, pelo menos lá a moça que me vendeu disse que elas precisavam de água gelada. Olha se eu vou molhar a planta com água gelada. Não dá, né? Então ela ia precisar também de ar refrigerado, de outras coisas mais. Elas morreram. Toda, toda begônia que eu trago de Petrópolis morre. Essas, essas violetas que a gente, que eu trouxe de lá, eu trouxe em folha que a gente colocando a folha na terra, elas brotam e criam o pé (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) São muito interessantes essas (sup.)
D
 (sup.) Petrópolis já foi conhecida como a cidade de uma determinada flor (sup.)
L
 (sup.) Ah, das hortênsias, né? É, lá agora voltaram as hortênsias a Petrópolis, esse prefeito quis manter a tradição de Petrópolis e mandou plantar hortênsia em toda a extensão dos rios, na, na avenida Quinze e tudo, naqueles, naqueles assim barrancos, né, ele mandou plantar hortênsia e também tem muito gravatá, conhece?
D
 Conheço.
L
 Esse também já con... já trouxe de lá um vaso cheio de gravatá. Lindos! Ele durou mais ou menos assim um mês enquanto tinha as flores. Depois que morreram as flores, morreram as folhas e eu fui tirar de dentro, então eu notei e também indo lá e vendo assim daonde é que eles tiravam, eles tiravam o gravatá da pedra e aglomeravam vários pés do mesmo gravatá dentro de uma lata, apertavam e enchiam, completavam os vasinhos com cavacos de madeira e vendem aquilo, a gente pensa que é assim um pé de gravatá cheio de flor. (tosse)
D
 E não é mesmo, né?
L
 Não é.
D
 E o que é um gravatá heim, que eu não conheço?
L
 É uma planta que dá em função de outra, quer dizer, é uma para... parasita, sabe? Ela tanto dá na pedra, assim no, no musgo, ela se alimenta do musgo, como de outras árvores, de árvores grandes. Então é assim uma folha meia dura e que dá uma flor muito bonita em, em ro... cor-de-rosa, sabe?
D
 Qual o outro tipo de flor parasita que as pessoas (sup.)
L
 (sup.) Ah, as orquídeas, né (sup.)
D
 (sup.) Raras, diferentes, não é (sup.)
L
 (sup.) Ah, é. Eu já andei transando com orquídeas (sup.)
D
 (sup.) E que tal a transação?
L
 Ah, as minhas transas com a orquídea foi porque eu tinha um professor que era orquidófilo, então ele começou a me animar a criar orquídeas, mas eu nunca passei daquelas, umazinha amarelinha que eles chamam borboleta. É uma, eu não sei o nome científico, mas é a mais simples, a mais assim (sup.)
D
 (sup.) De uma flor só ou (sup.)
L
 (sup.) Não (sup.)
D
 (sup.) Aquela que dá (sup.)
L
 (sup.) Ela dava assim um galho com uma porção de florzinha parecendo uma porção de borboletinha amarela, sabe (sup.)
D
 (sup.) São lindos (sup.)
L
 (sup.) É. Eu consegui ter aquela, mas era muito miudinha, não tinha cara de orquídea não. Eu queria aquela orquídea grande mesmo que eles têm lá, né? Que os orquidófilos têm, mas isso é, precisa de muito trato, de estufa, de, de ambiente e tudo e depois quando acabaram-se as aulas, acabou o interesse pelas orquídeas. (risos)
D
 Durou enquanto pôde.
L
 É, durou enquanto pôde, as aulas e as orquídeas. Mas era realmente o professor. Era particular, mas era. Mas então ele me trouxe de presente a orquídea e eu tratei da orquídea dele (sup./inint.)
D
 (sup.) Eu queria fazer uma pergunta. Vamos lá. Uma, um meio muito usado também com objetivo de formar novas, novas plantas, de misturar plantas (sup.)
L
 (sup.) Ah, é. Isso acontece muito em laranj... em laranja, né? Com as laranjeiras. São os enxertos e (sup.)
D
 (sup.) Como é o enxerto, você sabe, pra poder descrever ou (sup.)
L
 (sup.) Olha, eu já andei olhando (sup.)
D
 (sup.) Talvez viu (sup.)
L
 (sup.) Como é que faz o enxerto. A pessoa corta o, o galho da matriz, a que vai receber, que está plantada na terra, parece que é a matriz. Então a pessoa corta o galho, num, num determinado ângulo igual à que, à que vai ser enxertada, então as duas tem que ter o mesmo ângulo pra se casarem. Então col... coloca-se uma na outra e amarra então com uma palha de bananeira. De enxerto mesmo eu só, só conheço isso, da, enxerto da, de laranja, de limão. Eles falam muito em coisa enxertada, mas eu não, a gente que mora em apartamento, não está muito por dentro disso não. (risos)
D
 E quando a gente vai assim pro interior assim do estado que a gente vê aquele tipo de casinha bem do interior (sup.)
L
 (sup.) Ah, aquele tipo de sapê, né (sup.)
D
 (sup.) Geralmente que plantas tem em volta?
L
 É.
D
 Tem alguma assim que chama logo atenção, porque sempre (sup.)
L
 (sup.) Comigo-ninguém-pode?
D
 Pode ser (sup.)
L
 (sup.) É, o comigo-ninguém-pode até eu tenho aqui dentro de casa.
D
 Como é que é o comigo-ninguém-pode?
L
 Bom, é uma planta assim que dá um, praticamente não tem caule, né? Vai nascendo as folhas da própria raiz e são folhas largas e ovaladas e pintadas de branco ou pintadas de amarelo. Por isso de vez em quando a gente tem, costuma ter dentro de casa. Aliás eu já queimei as mãos com comigo-ninguém-pode, sabe? É. Criança não pode brincar com isso não, é uma coisa perigosa ter dentro de casa. Eu era pequena então resolvi fazer um, aquelas, que, couve mineira, né? Mas com as folhas do comigo-ninguém-pode, fiz aquele enroladinho e comecei a cortar. Cortei e manuseei bastante comigo-ninguém-pode. As minhas mãos incharam e ficaram ardendo, queimando, ficaram todas assim avermelhadas, foi preciso botar em banho de bicarbonato e uma porção de coisas, anestésicos e tudo pra, pra acalmar a dor da queimadura (sup.)
D
 (sup.) Provocada por quê, a dor?
L
 Pelo comigo-ninguém-pode (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) Provavelmente pelo sumo, né? O suco que saiu da, da folha (sup.)
D
 (sup.) Amassada.
L
 É, da folha amassada e cortada.
D
 Você está falando em plantas e em vegetais que a gente come. Agora existem outros tipos de plantas também (sup.)
L
 (sup.) Ah, tem (sup.)
D
 (sup.) Esse faz mal, tem outros que fazem bem (sup.)
L
 (sup.) Esse, esse que você fazendo aí, esse que você está fumando aí (sup.)
D
 (sup.) Ah (sup.)
L
 (sup.) Também é uma planta, né? (sup.)
D
 (sup.) Planta (sup.)
L
 (sup.) É. Aliás, na Bahia, quando eu fui pra Bahia, pra Salvador, porque lá na Ba... lá na, lá em Salvador, né, eles consideram lá que é a Bahia (sup.)
D
 (sup.) Isso (sup.)
L
 (sup.) Não é? Em Salvador eles consideram que lá é que é a Bahia. Então quando eu fui a Salvador, pan... passei por Feira da, Feira de Santana, Vitória da Conquista, são lugares muito bonitos mesmo e tem plantas por lá. Então, tem aquelas casinhas de sapê que têm um, uma espécie dum varal ao longo das paredes e as folhas de fumo eles agrupam assim mais ou menos de dez em dez e colocam montadas sobre esse fio pra secarem e lá elas se secam ali e com o sol. Eles tiram elas verdes e agrupam as folhas. É uma coisa muito bonita e tem um cheiro intenso. Aliás eu gosto do cheiro do, do cigarro, do fumo assim verde, né? Cigarro as... sempre dá uma rouquidãozinha ele queimado, mas ele verde até que é muito agradável. Aqui na, na Conde de Bonfim, na rua Conde de Bonfim tem a fábrica Souza Cruz. De vez em quando vem um cheiro forte mesmo de, de fumo fresco que eles lavam e cozinham, passam qualquer pre... assim preparado pra preparar o fumo, né, que sai então aquele vapor assim branquinho lá das caldeiras e vem aqui pra baixo, aquele cheiro. Então a gente sabe mais ou menos que é, porque eu não conheço cigarro. A gente sabe quando é que o cheiro, eh, quando o fumo é mais forte, mais fraco, mais doce ou mais assim acre, né? Ele é mais ... Então a gente sente esses, essa variedade de cheiro aqui. Só não agüentei quando eles fizeram cha... charuto, né? Charuto é que foi horrível, mas foi assim de enjoar a gente, da gente ficar enjoada assim uma semana, tamanho era o cheiro de charuto assim dia e noite, porque aí eles manuseiam o fumo, manuseio e não é só manuseado porque praticamente ele não é manuseado, ele só é manuseado no, lá na, lá na Bahia, lá de onde ele é tirado. Aqui ele já é todo feito em máquinas. Ele entra na máquina e não leva mais a mão do operário em hipótese alguma, então, mas eles trabalham no fumo as vinte e quatro horas do dia, saindo assim turmas de oito em oito horas mudando. Então o cheiro é permanente. Nem sei como é (sup.)
D
 (sup.) Normalmente gente do campo usa muito planta também pra curar, né?
L
 Ah, é. São as plantas que, curativas, né? São usadas também na, na homeopatia, né?
D
 É?
L
 É.
D
 Conhece alguma?
L
 Beladona, tudo isso é planta. É, beladona. O próprio jucá que eu já falei lá, lá de Muriqui. O que mais? Beladona, ah, tem muitas. Ah, arnica (sup.)
D
 (sup.) Isso (sup.)
L
 (sup.) Arnica é planta.
D
 E remédio caseiro.
L
 É, e remédio caseiro.
D
 (inint.)
L
 É o tipo da coisa que a pes... bom, a homeopatia que era, que é parte da, da flora foi empregada primeiramente pelos índios e depois est... estudada e assim tornada científica, né, pelo, pelos médicos mais estudiosos. Até ... Bom (sup.)
D
 (sup.) Hoje em dia o pessoal anda fumando umas outras coisas aí (sup.)
L
 (sup.) Ah, bom. Maconha, né (sup.)
D
 (sup.) E planta também (sup.)
L
 (sup.) É, maconha, né? Isso eu sinceramente, eu já achei até um cigarro (sup.)
D
 (sup.) Por sinal é plantada no Brasil, também (sup./inint.)
L
 (sup.) É, é plantada no Brasil, eh, em grande escala, né? A gente é que não sabe, nem a polícia sabe onde é que é plantado, mas que existe, existe. Eu achei uma vez um cigarro de maconha lá em Muriqui, embrulhadinho em, em folha de revista. Nós abrimos sabe, e começamos a molhar as folhas e percebemos que eram folhas. Aí nós chegamos à conclusão que devia ser maconha. São folhas não muito grandes não, porque o fumo é grande, né (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) É, tem mais de dois, tem quase dois palmos a folha, mas a maconha é erva, igual erva-cidreira, que também serve pra chá, né (sup.)
D
 (sup.) Sim (sup.)
L
 (sup.) Mas é igual a erva-cidreira. Tem folha assim miúda e verdinha. Tem erva-cidreira (sup.)
D
 (sup.) Isso (sup.)
L
 (sup.) Que eu tomo às vezes, gosto muito de tomar chá de erva cidreira. Lamento não ter um pezinho dentro de casa que na hora do frio aquilo é tão gostoso. Tem canela (sup.)
D
 (sup.) E há plantas que dão assim no chão e outras que (sup.)
L
 (sup.) São trepadeiras, né? É.
D
 Há uma planta de, que também se toma um remédio que dizem que é calmante. Você se lembraria? Dá no nordeste também com uma certa facilidade (sup.)
L
 (sup.) Maracujá (sup.)
D
 (sup.) É perfumada (sup.)
L
 (sup.) Ah, é maracujá. Nós tivemos um pezinho de maracujá lá em, lá em Muriqui, um pezinho de maracujá. Esse eu não posso tomar não que me abaixa demais a pressão.
D
 Ah, é? Engraçado (sup.)
L
 (sup.) É. Fico meio arreada assim de maracujá.
D
 Ultimamente tem havido e sido muito noticiado assim muitos movimentos assim de preservação de natureza, né?
L
 É. É, agora estão querendo replantar a beira da Lagoa, né? O Burle Marx está fazendo novos planos de, de novas plantas na beira da Lagoa, mas ele acha que todas as áreas têm que ser públicas e tirar o Tivoli Park, aquelas, aquele 'drive-in', então tirar aquilo pra plantar, plantar e o pessoal, e ficar embaixo, né, das plantas e o, se beneficiar. Mas será que vai haver um benefício mesmo? Porque ali no, no aterro do Flamengo, o pessoal só falta comer as plantas, né? Porque eles usam as plantas demais, quebram o galho, não há assim um amor assim coletivo pelas plantas não. Nós tivemos um caseiro lá em Muriqui que ele pegava o facão, primeira coisa que ele entrava no terreno era pegar o facão e desbastar os galhos de baixo. Cortasse como cortasse, o homem ia cortando tudo que estava à altura do facão dele ele cortava, até que ele foi mandado embora, né? Custou muito a ir, mas conseguimos mandar o homem embora pra parar. E isso aqui na cidade é a mesma coisa. Ninguém pode plantar uma, uma ameixeira, uma, uma planta assim que dê alguma fruta que ninguém espera a fruta vingar, ter, vir com mais força e tudo. Se é mangueira, você não vê uma manga no pé de manga, assim, numa, numa mangueira que esteja na altura da mão. O que o pessoal puder, tira, arranca tudo e (sup.)
D
 (sup.) Destrói (sup.)
L
 (sup.) Destrói um bocado. Não há assim uma (sup.)
D
 (sup.) E a técnica, o que devia haver quando se cortassem determinadas plantas, o que que se devia fazer?
L
 Sempre repor, né, a planta. Mas isso também não, não funciona. É tirar a planta e fica tirada e quantas e quantas palmeiras que estão sendo postas abaixo e ninguém se preocupa de plantar palmeira. Também a palmeira também depende da, do ar puro e sem ar puro não (sup.)
D
 (sup.) Não vai (sup.)
L
 (sup.) Não vai a palmeira pra cima de jeito nenhum. Lá no Mangue, né, eu acho que aquilo está tão poluído já que elas não passam de uma certa altura. Tem a, tem a poluição do mangue, a poluição aérea e os carros (risos) que às vezes pegam e derrubam lá dentro do mangue, ônibus. É uma loucura total.
D
 Agora, a planta além de purificar o ar ou de servir pra, pra, de alimentação, tem outras utilidades também, né?
L
 Ah, tem como, como utilidade do, assim de móveis, né? Os móveis são feitos com (sup.)
D
 (sup.) É? Como é, como é, como é que é feito isso (sup.)
L
 (sup.) Jacarandá, né? Jacarandá, gonçalo-alves, pinho, imbuia, peroba. Eu sei porque a gente trabalha aí, a gente faz marcenaria, nós temos um quarto aí nos fundos (sup.)
D
 (sup.) Ah, é (sup.)
L
 (sup.) É. E nós trabalhamos (sup.)
D
 (sup.) Então conta pra gente (sup.)
L
 (sup.) Nós trabalhamos, fazemos nossos trabalhinhos aí em marcenaria. Então, por exemplo, essa caixinha aí que está parecendo jacarandá, né (sup.)
D
 (sup.) Hum (sup.)
L
 (sup.) Ela é de peroba. Mas depois dela, eh, depois dela toda arrumada, então eu envernizo, dá-se um 'vieuxene', que é um extrato de, de carvalho posto em álcool, então a gente com aquele 'vieuxene', a gente passa nela toda, dá o, o efeito que a gente quer e depois enverniza com verniz de boneca e consegue esse efeito de jacarandá. Aqueles banquinhos lá, vai lá buscar os banquinhos (dirigindo-se a terceiros), os banquinhos também são de, de pinho do mais simples que eu envernizei e botei assim, da, da cor pelo menos de uma peroba (sup.)
D
 (sup.) Muito bonito (sup.)
L
 (sup.) Tem, tem cara.
D
 Pinho é uma madeira que dá muito problema, né, às vezes.
L
 Problema quando dá bicho, né?
D
 É, né?
L
 É, que costuma bichar.
D
 E tem algum meio de, de evitar que (sup.)
L
 (sup.) Ah, tem (sup.)
D
 (sup.) Dê bichos (sup.)
L
 (sup.) Tem uns remédios, uns, uns, umas químicas que evitam. Agora não, não estou lembrada do, do produ... do, mas evita-se, cons... pode-se evitar. Mas mesmo a gente envernizando (tosse) já evita o, o bicho de pegar. Tem o gonçalo-alves que é esse sofá aqui. A gente tem uma mistura, né? Porque a gente não consegue ter dentro da, de casa, todos numa, de uma madeira só. Esse armário já veio aí com vinhático, ele é bem amarelo, é muito amarelo mesmo o vinhático, mas ele recebe bem o tratamento pra ficar mais escuro. Então ele fica todo igualado assim. A mesa também é de gonçalo-alves. Gonçalo-alves também é outro que a gente escurecendo, ele parece jacarandá. Então a gente dá todo assim uma, um tom de jacarandá na casa porque as cadeiras são de jacarandá, o estrado de jacarandá e a cadeira é pintada mesmo. Não teve outro jeito, não fui eu que fiz. (risos)
D
 É, agora árvore, além de móveis também é utilizada pra muitas coisas, né?
L
 Barcos. Barcos e (sup.)
D
 (sup.) Quando a gente está com frio, ela serve, a gente faz o quê?
L
 Ah, lareira? Queimar? Pôxa, mas isso eu acho que não, aqui no Rio não se usa isso, nem, nem precisa, né (sup.)
D
 (sup.) Mas lá em Petrópolis? Não se corta alguma coisa (sup.)
L
 (sup.) Bom, é, realmente (sup.)
D
 (sup.) Pra botar na lareira?
L
 Corta madeira, né, assim graveto, coisa velha tudo lá no ... Mas, olha, dá uma uma fumaceira que não dá. Meu cunhado tem lá uma lareira que ele só acendeu uma vez, encheu a casa de fumaça. (risos)
D
 E isso aqui, ó?
L
 Papel? Ah, é, papel também é feito com madeira, né? Madeira lá do Paraná.
D
 Qual é o tipo de árvore que dá no Paraná que vira assim até cartão-postal?
L
 Pinho, né? É o pinheiro (sup.)
D
 (sup.) Exato.
L
 É, o pinheiro do Paraná. Eu não sei se o pinheiro, se o pinho vem do pinheiro. Deve vir, né (sup.)
D
 (sup.) Pinha que chamam, né (sup.)
L
 (sup.) É, dá a pinha.
D
 (inint.)
L
 Não a pinha, o pinhão.
D
 Isso.
L

  O pinhão também a gen... de vez em quando a gente come aí pinhão. Mas tem um, um gosto mesmo de árvore, né? Assim, de madeira, não sei qual é a graça que a gente acha naquilo, mas assim a gente come, saboreia, mas n... tem assim um gosto de madeira. (risos).