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PROJETO NURC-RJ

Tema: "Corpo Humano"

Inquérito 0229

Locutor 272
Sexo feminino, 57 anos de idade, pais não-cariocas
Profissão: engenheira
Zona residencial: Norte

Data do registro: 12 de junho de 1974
Duração: 43 minutos


Som Clique aqui e ouça a narração do texto


D
 Poderia comparar a senhora com seus irmãos, se são, se são parecidos ou se não são parecidos, em que aspectos parecem ou diferem um dos outros?
L
 Sim.
D
 Eh, especificando os detalhes físicos, que tornam vocês parecidos ou diferentes uns dos outros, entende?
L
 Antes de você ligar, deixa eu ver. Eu tenho que então começar pelo aspecto físico, então?
D
 É. A senhora, por exemplo, como é que a senhora se descre... eh, se descreveria, fisicamente?
L
 Sei (sup.)
D
 (sup./inint.) muito bem, a senhora descreve a senhora, a senhora descreve a mim, descreve a ela (sup.)
L
 (sup.) Sim (sup.)
D
 (sup.) Em termos assim de como é que a senhora nos vê.
L
 Hum.
D
 Como é que a senhora se vê. Por exemplo, a senhora acha que eu sou carioca pelo aspecto físico?
L
 Não.
D
 A senhora acha que eu sou de onde?
L
 Acho que é do norte.
D
 Por quê?
L
 Pelo aspecto físico e o ... Vê pela voz. Eu acho que você é do norte, né?
D
 Só pela voz?
L
 Pela voz e o aspecto físico mesmo. Quer dizer (sup.)
D
 (sup.) Que que tem ele (sup.)
L
 (sup.) O rosto (sup.)
D
 (sup.) Hum (sup.)
L
 (sup.) O formato do, ahn, do rosto (sup.)
D
 (sup.) Só, é como, o formato do rosto?
L
 O formato do rosto redondo assim. Eu acho que você não é carioca. O nariz, também.
D
 É (sup./inint.)
L
 (sup.) A voz não é assim tão marcante. Eu acho que a voz já não é, não é sua característica principal. Eu acho que o seu aspecto físico é mais característico pra dizer que você não é carioca.
D
 O meu nariz, por exemplo, o seu nariz são bastante diferentes.
L
 Bem diferente. Bastante diferente (sup.)
D
 (sup.) Como é que a senhora, eh, caracterizaria? Porque, eh, existem inclusive certos nomes.
L
 Mais largo, né? O nariz do nortista é mais largo. Eu posso dizer que eu ... A minha família toda da parte materna é nortista. Quer dizer, eu sou uma mistura, está entendendo, de nortista com sul, com gaúcho. Quer dizer que já saí com os cabelos claros e mais, e aspectos mais de nortista, porque uma pele mais morena, um tanto de ... Cabelos lisos também e um aspecto de (inint.) uma mulher ... Agora o meu biotipo por exemplo, o meu biotipo é mais nortista do que sulista.
D
 Por quê?
L
 Não é? Porque é baixa, está me entendendo, sou baixa e cheia de corpo, não sabe? Ao passo que o meu pai era alto, bem alto, tinha um metro e oitenta e seis, não era forte, era mais pra magro do que pra gordo, está me entendendo? Um tipo inteiramente diferente da mamãe. Mamãe era baixa, magra, cabelos lisos, pele morena clara (inint.) e nenhuma de nós saiu com o tipo característico da região, nem do norte, nem do sul. Nós éramos, nós somos três, um irmão e duas irmãs, e todos os três fisicamente diferentes. Não se... eu penso assim. O que foi essa mistura do gaúcho com nortista que deu essa diferenciação física, vamos dizer assim. O meu mano por exemplo é alto, é claro, cabelos pretos, bem claro, olhos escuros. Minha mana é estatura média, estatura média, cabelos escuros também, não tão escuros quanto o dele, castanhos, vamos dizer, olhos castanhos, não sabe, e nem gorda nem magra.
D
 E o meu caso?
L
 O seu caso, é clara, né? Você tem o, o, o tipo mais pra, pro pessoal do sul, né? (riso) É clara, né, cabelos castanhos e alta, nariz também mais, bem diferente do dela. (riso)
D
 Qual é a diferença?
L
 Ah, a diferença, você tem mais aquilino, né, o nariz, né? Seu nariz é mais aquilino. (riso) A boca menos rasgada do que a dela. Os lábios mais ... O lábio inferior, então, mais grosso, não é? O seu tipo eu acho que é mais sulista do que nortista. (riso)
D
 E os seus irmãos, a senhora disse que tem dois irmãos.
L
 Um irmão e uma irmã.
D
 Ah, sim, a senhora descreveu. Só um instantinho, um parênteses. A senhora disse assim: meu mano é assim, a minha mana é assim. A senhora trata eles assim?
L
 Trato pelo nome, né? Mas quando me dirijo a eles chamo mano e mana.
D
 Ah, era só um detalhe. Agora há pouco a senhora disse (sup.)
L
 (sup.) É. Eu chamo mano e mana. Agora há um detalhe interessante. O meu mano só chamava minha irmã de maninha e ele chamava minha irmã de maninho. E nós, e eu e a outra não chamamos. Nós chamamos pelo nome. Agora quando nos dirigimos a eles, chamamos mano e mana. (riso) Interessante, né?
D
 É. A senhora disse que tinha os cabelos, eh, que não eram tão escuros, né?
L
 Os meus eram claros, bem claros.
D
 Mas agora ...
L
 Agora estão brancos. (riso) Agora estão brancos.
D
 Mas não completamente, né?
L
 Não, não, grisalhos, né, grisalhos. Mas meus cabelos eram bem claros, bem claros. Talvez da cor do, do, do seu ...
D
 M.H.
L
 Da M.H. Talvez da cor da M.H. Talvez até um pouco mais claro que o da M.H.
D
 A senhora tem cuidados especiais com seu cabelo? A senhora cuida deles?
L
 Não. De jeito nenhum. Não cuido não. (riso)
D
 A senhora sabe que algumas pessoas, a, o cabelo começa a ficar ...
L
 Não, não. Não sou. Pelo seguinte: não tenho cuidados especiais porque eu não sou vaidosa, está entendendo (sup.)
D
 (sup./inint.) cuidado geral (sup.)
L
 (sup.) O grande defeito (sup.)
D
 (sup.) O cuidado geral, o cuidado normal que as pessoas têm com o cabelo, com o aspecto físico.
L
 Sim, com o aspecto físico de limpeza apenas, mas não de vaidade (sup.)
D
 (sup.) Isso implica numa rotina (sup.)
L
 (sup.) Uma rotina, que isto já não é mais (sup.)
D
 (sup.) O que é que se faz? Eh, eh, a rotina desses cuidados (sup.)
L
 (sup.) A rotina é lavar, está entendendo, lavar, lavar o cabelo quase que diariamente. Eu acho isso aliás errado, mas eu faria, fazia, está entendendo, e faço. Eu não sei tomar banho sem lavar a cabeça. Eu lavo a cabeça quase que diariamente. Dizem que isso é errado, mas, não sei, eu lavo.
D
 Por que que é errado?
L
 Dizem que quem ... Dizem que enfraquece, né? Que não se deve lavar diariamente o cabelo. Eu não sei se é verdade ou não. Mas o fato é que eu lavo, não sabe? Eu lavo diariamente o cabelo. O único cuidado é esse de higiene e higiene peculiar. Uma higiene, vamos dizer assim, normal. Agora, enrolar e ... Isso não faço não. Isso eu não faço. Não é hábito, né, não tenho hábito.
D
 Agora, em termos assim de hábitos, de higiene, eh, por exemplo, de manhã, a gente tem por hábito, quando acorda, tem uma série de comportamentos. Então a gente queria assim que a senhora ...
L
 Imediatamente, eu ... Acordar? Imediatamente é um banho. Não frio, porque tenho horror à água fria, gosto de banho quente, está entendendo? Escovo os dentes, né, que é coisa normal, nossa. E me visto. Aí me apronto, me apronto pra, pra sair, porque eu saio oito horas, oito e meia. Eu já, levanto, tomo banho, já me visto pra rua, pra ir pra rua, já pra trabalhar. Me visto pra ir pra trabalhar.
D
 Que tipo de roupa assim que a senhora costuma usar? É (sup.)
L
 (sup.) Ah, roupa muito simples.
D
 Mas ela é feita ou ela é (sup.)
L
 (sup.) Eu compro feita, em geral eu compro feita (sup.)
D
 (sup.) Compra feita.
L
 Em geral eu compro feita.
D
 A senhora nunca foi assim a pessoas que fazem roupa?
L
 Eu, eu, às vezes eu uso, vou à costureira. Faço um vestido ou outro, vamos dizer, está entendendo, quando não, não encontro aquilo que me agrada, prum ato especial, mas eu, mas normalmente eu compro feita a roupa.
D
 E quando a senhora vai até a costureira, elas tomam medidas (sup.)
L
 (sup.) É lógico (sup.)
D
 (sup.) Pra poder fazer uma, uma roupa (sup.)
L
 (sup.) É, as medidas (sup.)
D
 (sup.) A senhora lembra quais são essas medidas que ela toma?
L
 Isso é difícil (sup.)
D
 (sup.) Por quê?
L
 O meu manequim normal é quarenta e oito, quarenta e oito. Já foi cinqüenta, agora é quarenta e oito, não sabe? Agora esse é o manequim. Agora, a medida assim ...
D
 Não. Ela mede certas partes do corpo.
L
 É, ela mede. Por exemplo, ela, braço, com braço dobrado, se é manga comprida, comprimento, não é, comprimento, que mais? A altura de blusa e altura de saia, ombro. Vamos ver mais: busto, não sabe? (riso) Elas têm aquelas medidas todas características de quem costura, né?
D
 É, era exatamente essa que a gente tinha que ter uma idéia.
L
 Uma idéia, mas não tenho assim porque pouco faço roupa em costureira, não posso dizer quanto tenho de, de busto, de quadris, não sei, sinceramente, eu não sei. Eu sei que o manequim é quarenta e oito. Agora ...
D
 A senhora falou que era cinqüenta.
L
 Quarenta e oito a cinqüenta, porque eu fui, quer dizer, eu fui manequim cinqüenta.
D
 Depois a senhora ...
L
 Emagreci. É, depois eu perdi peso e passei pra quarenta e oito.
D
 A senhora fez assim, tomou algum cuidado especial, tomou medidas (sup.)
L
 (sup.) Não, eu não tomei cuidado especial não. Foi com a idade mesmo que eu acho que emagreci. Acho que com a idade mesmo fui perdendo peso, né?
D
 No começo a senhora disse que era cheia de corpo.
L
 É.
D
 A senhora foi sempre assim, na adolescência foi (sup.)
L
 (sup.) Sempre. Desde que nasci.
D
 É.
L
 Sempre cheia, mais gorda, menos gorda. Nunca magra. (riso) Mais gorda e menos gorda.
D
 Bom, e outro detalhe, eh, mulher, principalmente, assim (inint.) quando vai avançando a idade, vai se modificando fisicamente. A senhora teve esse tipo de preocupação, sobretudo na parte do rosto, por exemplo. Que a mulher sente as modificações que ela vai sofrendo (sup.)
L
 (sup.) Não (sup.)
D
 (sup.) Vai se tornando mais velha (sup.)
L
 (sup.) Eu não tive, eu vou dizer a você. Eu não tive por que eu me preocu... a única preocupação que eu tinha era de me tornar uma criatura idosa, está entendendo, sem ser ridícula. Era a única preocupação, mas não, está entendendo, das vestimentas, que eu nunca me pintei por exemplo. Quer dizer, eu não tinha, não tinha preocupação. Eu nunca me pintei, coisa nenhuma, nem lábios, nem olhos, nunca me pintei. Quer dizer, essa preocupação eu não tinha. Agora minha preocupação era na vestimenta. Isso eu tive preocupação, de manter sempre um, uma vestimenta adequada com a minha idade, está compreendendo? Sempre adequada com a minha idade. Mas eu sempre gostei de cores sóbrias, não sabe (inint.) quer dizer que não foi muito difícil pra mim, está entendendo, encarar o avanço dos anos, (riso) não foi, não foi difícil para mim.
D
 Agora, há pessoas que se preocupam muito com isso (sup.)
L
 (sup.) Muito com isso. Não, esta preocupação não, eu não tive (sup.)
D
 (sup.) Não é o caso da senhora, mas (sup.)
L
 (sup.) Não senti (sup.)
D
 (sup.) Mas a senhora deve conhecer pessoas que têm preocupação (sup.)
L
 (sup.) Conheço algumas que têm preocupação (sup.)
D
 (sup.) Que tem (sup.)
L
 (sup.) recorrem até a artifícios, né (sup.)
D
 (sup.) É, a senhora (sup./inint.)
L
 (sup.) Que se tornam ridículos, está me entendendo (sup.)
D
 (sup.) O que é que elas fazem?
L
 Eu, por exemplo, eu conheço uma senhora que ela, a preocupação dela é envelhecer. Então, ela diz o seguinte: eu queria morrer moça, pra não envelhecer, mas já que não posso, uso de todos os artifícios para parecer mais jovem. Então, ela pinta os cabelos, ela fez plástica, no rosto e no busto, está entendendo? É uma escrava da, da, da, dos ambientes de beleza, não sabe? Faz ginástica, uma outra ginástica que ela faz é essa muito comum que fazem aí, ioga, não sabe? É uma escrava da beleza. Mas eu suponho que isso acontece porque ela não tem outra preocupação a não ser a casa dela, o marido e o único filho que hoje é casado que não dá preocupação. Então eu acho que as mulheres, como nós, que temos outras preocupações, eu acho que se esquecem um pouco dessa parte. Não sentem, têm a felicidade de não sentir os, os anos passarem, o envelhecimento, vamos dizer assim. Eu tenho essa impressão. É impressão própria, não sei (sup.)
D
 (sup.) Geralmente as pessoas que fazem plásticas, elas fazem plástica em decorrência de determinadas, determinadas coisas, não é (sup.)
L
 (sup.) Sei (sup.)
D
 (sup.) O que que leva a uma plástica, por exemplo, de rosto e de busto (sup./inint.)
L
 (sup.) Eu acho que só, eu acho que muito leva é a vaidade. A vaidade por causa das rugas, está me entendendo? Ela, por exemplo, essa senhora, que eu conheço, é verídica, é um caso mesmo. Ela tinha umas rugas perto dos olhos, ela então fez plástica, esticando pra, pra parte da orelha, está entendendo, pra tirar as rugas. Aliás ficou com uma fisionomia bem diferente. Modificou muito a fisionomia. Eu achei. Ficou bem feita a plástica, mas eu achei. E fez, e como o busto era um pouco grande, que ela engordou, foi o contrário (riso) do que aconteceu comigo, que eu emagreci, ela engordou, depois de senhora. É senhora, mas senhora moça, de cinqüenta anos, vamos dizer assim. E ela é mais moça do que eu. Ela fez uma plástica de busto, não sabe, pra diminuir. E faz um regime pra emagrecer também, pra, para parecer mais jovem. Ah, outra coisa, com idéia fixa de usar calça comprida, também, porque ela acha que gente gorda não ficava bem de calça comprida, então ela fez diversas coisas pra poder usar calça comprida, que ela acha que é mais elegante, né? Na verdade ... (riso)
D
 No começo, quando a senhora descreveu seu pai, disse que ele era muito alto.
L
 É, um metro e oitenta e seis.
D
 Um metro e oitenta e seis. Bastante alto, né? Agora, ele era, eh, bem proporcionado? Porque algumas pessoas (sup.)
L
 (sup.) Bem proporcionado (sup.)
D
 (sup.) São muito altas, mas são desajeitadas (sup.)
L
 (sup.) Bem proporcionado. Tinha uma barba grande, ele tinha um aspecto, depois de idoso, do Pedro II. Barba grande. Bem proporcionado (sup.)
D
 (sup.) Mas esse bem proporcionado significa o quê (sup.)
L
 (sup.) Significa o seguinte: que ele tinha altura, quer dizer, cabeça, membros, todos proporcionais, um homem proporcional. Era um homem, na acepção da palavra, bonito. (riso) Másculo, está entendendo, mas bonito, másculo mas bonito. Uma barba grande, não é, cabelos espessos, não muito, mas mais ou menos espessos, não sabe, e dependendo da idade, né, depois embranquecendo, (riso) não sabe? E era ... Agora o espírito dele é que era interessante. Ele era um homem taciturno, era taciturno, era um homem calado e introspectivo, não sabe? Calmo, muito calmo, aparentemente, e, eh, nunca, nunca vi, nunca o vi exaltado, vamos dizer assim, nunca o vi exaltado.
D
 Por que a senhora diz que ele era calmo, aparentemente?
L
 Porque acho que ele ... Eu tinha impressão que, de certa forma não podia deixar de sofrer, porque perdeu uma filha moça, perdeu os pais muito cedo, quer dizer, ele era um homem triste, era um homem triste. Meu pai era um homem triste. Ele mesmo dizia que ele era um homem triste. Agora só gostava de pessoas alegres. Por isso que nós tínhamos uma afinidade perfeita eu e ele, porque eu sou muito alegre, ele muito triste, tínhamos uma afinidade perfeita.
D
 E sua mãe, nesse aspecto?
L
 Mamãe era mais pra alegre, bem mais alegre, ela também. Quer dizer, eu acho que essa afinidade entre papai e mamãe foi justamente devido aos temperamentos muito diferentes, muito diferentes mesmo, mas era uma afinidadde perfeita. Basta dizer os cinqüenta e quatro anos de felicidade, posso dizer assim, de felicidade.
D
 E seus irmãos, porque a senhora disse que fisicamente houve uma mistura, né?
L
 Houve uma mistura.
D
 E nesse aspecto, eh ...
L
 O mais diferente é meu mano. O meu mano é que saiu na altura mais ou menos do papai, um pouco mais baixo.
D
 E agora nesta parte de temperamento.
L
 Temperamento, eu acho que o temperamento também é assim, o temperamento do meu mano é mais ou menos parecido com o do papai, mas não é triste, é alegre. Mas temperamento, vamos dizer assim, em que ponto, em que eu acho parecido? Maneira de agir, está entendendo? Ele age mais ou menos como o meu pai agia, ele age. Agora só tem que triste. Porque meu pai foi triste devido às circunstâncias de vida nossa e meu mano não teve a mesma circunstância de vida dele. Teve um ambiente mais alegre. Eu acho que o ambiente influi, né, influi. Nós tivemos, por exemplo, ele nos proporcionou uma, ele nos proporcionou uma infância e uma juventude, não sabe, muito sadia, não sabe? Eu acho que isso influi muito, né, na, na personalidade e na, e mesmo na, até no temperamento da pessoa, né? Eu tenho essa impressão.
D
 O que que a senhora chama de sadia?
L
 Sadia?
D
 É.
L
 Olha, por exemplo, ele queria que nós estudássemos. Todos estudávamos. No fim do ano, fechávamos o livro e ele ia pra fora. Aí ele reunia os filhos e dizia: o que que vocês preferem, praia ou campo? Aí, uns queriam praia, outros queriam campo. Então ele conciliava da seguinte maneira: um ano ele ia pra praia, outro ano ele ia pro campo, não sabe? E, por exemplo, as, os, as festas. Ele dava muita festa em casa, não sabe? Gostava que nós tivéssemos amigos. Meu pai era um homem do século passado, mas adiantado. Todos os filhos, filhos que eu digo, mulheres e homens, que eu, eu perdi uma irmã, moça, era farmacêutica. Também meu irmão é oficial do exército, general. Minha irmã é dentista. A outra é farmacêutica e eu sou engenheira. E uma que ele criou, que era cunhada, é dentista também. Quer dizer, ele era um homem do século passado, com idéias modernas. Ele achava que toda mulher tinha que ter uma profissão, fosse essa qual fosse. Esta minha irmã, por exemplo, que é dentista, ela não queria estudar. Então escolheu a carreira que tinha menos números de anos (riso) e que não tivesse matemática. (riso) Então ... Mas estudou, é dentista. Não exerce a profissão.
D
 A senhora falou assim em viagens pelo Brasil. Eh, há uma, eh, diversidade do tipo, a senhora falou que ela parece nortista e o meu tipo seria mais do sul.
L
 Do sul.
D
 O que que caracteriza, assim, racialmente, do ponto de vista físico, essas pessoas na população brasileira (sup.)
L
 (sup.) O que que caracteriza (sup.)
D
 (sup.) É.
L
 Eu acho que a cor da pele é importantíssima. A cor da pele difere muito do norte para o sul. Mesmo que a pessoa seja clara, o, o nordestino, vamos dizer assim, tem uma pele diferente.
D
 Como é que é?
L
 É um moreno mais pálido. Eu acho um moreno mais pálido, não sabe? Ao passo que o sulista é mais claro, mais corado, está entendendo, eu acho, mais corado. E quando o nortista, o nordestino, vamos dizer, é corado, é um corado diferente, é uma cor diferente. Eu caracterizo muito isso. Os cabelos também, os cabelos também têm, eu acho que é grande, que é grande importância os cabelos. E o modo de falar, né, o modo de falar (sup.)
D
 (sup.) Os cabelos, espera aí, os cabelos, por quê?
L
 Porque os cabelos dos, eu acho que do nortista, do nordestino, são mais lisos, né, são mais, assim, mais escuros e mais lisos, e mais lisos.
D
 Porque há no Brasil também toda uma influência, toda uma miscigenação, uma mistura racial (sup.)
L
 (sup.) Uma mistura racial.
D
 E isso se reflete também no ...
L
 Isso se reflete também. Porque, pelo seguinte, porque no norte, não é, houve mais a, a influência de outras raças. No sul, a, a maior, a, a raça, vamos dizer assim, São Paulo, são os italianos, no Rio Grande do Sul, são os alemães. Quer dizer, essa mistura é que fez com que a, os físicos ficassem diferentes. Eu acho que isso é evidente. Já no norte, está entendendo, mais portugueses, mais indígenas, também. Quer dizer, eu acho que isso influiu muito, né? O pessoal, por exemplo, do Pará, tem muito o, tem muito cruzamento com índio, está entendendo, com índio. Belém do Pará tem muitas, muitas moças que são netas ou bisnetas de índios. Quer dizer, isso (sup.)
D
 (sup.) E fisicamente (sup.)
L
 (sup.) Fisicamente eles se parecem. Ficam com aquela ... Característico (sup.)
D
 (sup.) Quais são os traços físicos característicos (sup.)
L
 (sup.) Ah, o nariz largo. Embora, olha, eu tenho, conheço diversas pessoas claras, está compreendendo, mas o nariz característico, o nariz largo, está entendendo? Os cabelos assim um pouco mais duros do que o cabe... do que o pessoal do sul, embora sejam às vezes cabelos até claros, está entendendo? São misturas. Cruzação de bisavós, já, já tem ... A parte do sul já é diferente. O alemão, o austríaco também que tem. Por exemplo, na cidade de Blumenau tem muito alemão.
D
 E o tipo físico então tem uma característica diferente (sup.)
L
 (sup.) Tem a característica diferente, bem diferente o tipo físico, eu acho. Do nortista pro sulista, eu acho bem diferente.
D
 Então no sul, por exemplo, o que que caracterizaria?
L
 Mais claro. As pessoas são mais claras, está entendendo, com um tipo mais semelhante ao alemão, nas cidades do sul (sup.)
D
 (sup.) Como é o tipo alemão?
L
 É claro, cabelos louros, também tem muito claro. Embora tenha também cabelos escuros, mas não é comum.
D
 E a influência do negro?
L
 A influência do negro eu acho que no Brasil inteiro, principalmente mais pra, pro centro e pro norte. No sul não é comum. Negro no sul não é comum. Não é comum. Eu, por exemplo em, mesmo assim lá em Blumenau, eu não vi quase negro. Não vi mesmo (sup.)
D
 (sup.) Mas, por exemplo, no Rio de Janeiro, pessoas que a senhora vê que são descendentes de negros, se a senhora compara com os negros americanos, a senhora não vê diferença?
L
 Eu acho que os negros americanos são diferentes, né (sup.)
D
 (sup.) É (sup.)
L
 (sup.) O negro brasileiro, eh, porque o negro brasileiro eu acho diferente.
D
 Por quê? Comparando (sup.)
L
 (sup.) Pelo seguinte, comp... Bom, eu não conheço muito bem o negro americano, está entendendo (sup.)
D
 (sup.) Mas de ir ao cinema, de fotografias (sup.)
L
 (sup.) De cinema, de fotografia assim, eu tenho a impressão que ... Porque eu tenho visto negros americanos com as feições mais finas. Eu acho que o nosso, devido à mistura do indígena, talvez, do cafuso, né, que tem o, como é mesmo, eu acho que isso dá, dá as feições mais grosseiras, não dá não? Eu tenho essa impressão. Não posso caracterizar porque nunca me dediquei, vamos dizer, a um exame assim detalhado do assunto, mas isso é uma impressão pessoal porque eu acho que o brasileiro tem as feições mais grossas. Agora, sobre o carioca é difícil, porque aqui há de tudo, sulistas e nortistas e do centro, aqui é muito difícil, é uma mistura muito grande.
D
 A senhora tem sobrinhos?
L
 Tenho muitos.
D
 Mas, eh, em que idade, que faixa de idade mais ou menos?
L
 Eu tenho dois já uma moça e um rapaz e os outros todos pequenos de quatro, três, dois e um.
D
 Bom, então, quatro, três, dois e um ano, né? A senhora, eh, por acaso a senhora acompanha o desenvolvimento físico deles?
L
 Acompanho.
D
 A diferença, as diferenças que existem nas, nas várias fases.
L
 Acompanho sim, acompanho bem, porque gosto dessa parte. Mesmo porque eu criei duas moças, são moças hoje. Eu sou solteira, mas criei duas meninas. E sempre me dediquei e sempre gostei de estudar muito essa parte de, de educação infantil. Sempre gostei. E fiz até um curso por correspondência desse, da Montessori, em São Paulo, que aliás, a... agora vai haver um congresso, em São Paulo. E fiz até o ... Gosto muito. E acompanho o desenvolvimento deles, porque um dos sobrinhos eu criei, não sabe?
D
 Em termos de método Montessori, umas das procupações montessorianas assim básica é desenvolvimento harmônico de corpo (sup.)
L
 (sup.) De corpo (sup.)
D
 (sup.) E mente.
L
 E mente. De corpo e mente.
D
 Então a Montessori se preocupou muito com o desenvolvimento da criança nesse aspecto físico.
L
 Físico, é.
D
 A senhora lembra assim quais são, eh (sup.)
L
 (sup.) Bom, dizem que já está um pouco ultrapassado esse método Montessori, né? Dizem que está. Porque a Montessori, por exemplo, ela, ela dava muita importância, deu muita importância, à criança antes de nascer.
D
 Hum, hum.
L
 Foi o que eu mais estudei.
D
 Por quê?
L
 Pelo seguinte, porque ela achava que antes de ser cortado o cordão, o cordão umbilical, a criança tinha todos os reflexos, todos os reflexos. Inclusive, neste curso que eu fiz ... Eu não sei se estou falando demais.
D
 Não, está ótimo, está ótimo. É exatamente isso (sup.)
L
 (sup.) Inclusive neste curso que eu fiz, ela contava fatos interessantíssimos. De criaturas que aos dezesseis, dezoito anos eram revoltadas. Então, foi ao psicólogo. E, primeiro, médicos, aqui e ali. Ah, isso é uma questão de educação! E não era. Era uma questão de, de, eh, talvez uma doença, não é? Também não era. E então começaram ... Aí foram ao psicólogo, né, de uma parte mais moderna, vamos dizer assim. Então descobriu o seguinte: que esta moça, que inventava que ela tinha doenças, até lepra ela inventou que tinha. Isso ficava com manchas na pele, né? Doutra feita, ela dizia que estava fraca do pulmão, sabe, e chegou a escarrar sangue. Veja você! Não sabe, o esforço era tamanho que ela chegou a (inint.) e assim ela se sentia inteiramente ... Bom, aí foi-se então pesquisar, os psicólogos foram pesquisar. Quando ela nasceu, ainda não tinha sido cortado o, o cordão umbilical e a mãe revoltada porque não era um homem, disse: que droga, eu queria um homem! Isso refletiu sobre a criança. Refletiu sobre a ... E ela se criou assim. Embora mais tarde a mãe agradasse, a mãe, eh, achasse que ela preenchia as formalidades de filha, vamos dizer assim, ela era uma inconformada. E só se curou depois que descobriram por que ela era assim. Foi o psico... o, o tratamento psicológico. Interessante, não, interessante.
D
 Agora em termos assim de uma pessoa (inint.) também, não sei se a senhora chegou a ver essa parte, ela, ela propõe uma série de orientações pra o tratamento da criança. Exatamente com a finalidade de desenvolvimento físico.
L
 É. E desenvolvimento físico e mental. Acompanhando o físico, está entendendo, o, aliás, acompanhando o, o mental ao físico, está entendendo?
D
 Ham, ham.
L
 Agora com uma certa liberdade exagerada, está entendendo?
D
 Então, eh, né, nesse aspecto físico, que que talvez seja a contribuição dela?
L
 Ginástica, né? Ela fazia ginástica, jogos. Ginástica, jogos e, e ela, e aconselhava assim, não sabe? Não me recordo porque esse curso já foi feito há muitos anos, eu posso me lembrar assim dos detalhes, está entendendo?
D
 Hum, hum. Porque isso tudo, por exemplo, porque uma ginástica, um jogo, leva a criança a ter domínio de quê?
L
 Da personalidade, né? Pra formar a personalidade da criança, né?
D
 E como é que o corpo entra nisso?
L
 O corpo entrava, isso justamente na, nos brinquedos, está compreendendo? Por exemplo, uma criança com, vamos dizer, com dois anos já ela achava que já devia ter atividades e que, eh, correlata com a, com o desenvolvimento mental. O, ela, por exemplo, uma criança com dois a três anos, até três anos, ela era adepta, por exemplo, de, de bater, porque ela não, ela ainda não tinha mentalidade para distingüir o bem do mal, não sabe? E ela, por exemplo, ela achava que devia ter brincadeiras. Naquela época não tinha jardim da infância, hoje tem. Nessa época que eu vi esse curso, não tinha ainda jardim da infância, tinha, mas não era com o aperfeiçoamento de hoje.
D
 Ela tem muito aquela idéia de que a criança tem de dominar o seu eu físico, né (sup.)
L
 (sup.) Pois é, e é por isso que ficou meio (sup.)
D
 (sup./inint.) que ela tem, eh, a mãozinha, que com a mãozinha ela pode fazer coisas, então, desenvolver, por exemplo, os sentidos (sup.)
L
 (sup.) Os sentidos.
D
 A senhora lembra, lembra de, de coisas desse tipo?
L
 Assim agora não me lembro, porque já tem tantos anos que eu fiz esse curso, que eu não me lembro mesmo qual era a ligação que ela fazia entre uma e outra, já, já ...
D
 Hum, hum.
L
 Guardei os fatos mais característicos.
D
 E as duas moças que a senhora criou, a senhora criou desde recém nascida e ...
L
 Recém-nascidas, uma com oito dias, outro com seis dias.
D
 Então a senhora sentiu a evolução física delas (sup.)
L
 (sup.) Senti a evolução física delas (sup.)
D
 (sup.) Quais foram as modificações que foram ocorrendo, ocorrendo fisicamente, marcando as diversas fases? As crianças tinham reações assim visíveis físicas?
L
 Temperamentos inteiramente diferentes (sup.)
D
 (sup.) E fisicamente (sup.)
L
 (sup.) Embora criadas da mesma maneira. Agora, fisicamente, são mais ou menos parecidas. Uma, morena, a outra é mais pra clara. Mais clarinha, a outra é mais morena. Agora, fisicamente, não, não vejo ...
D
 Agora, mas, por exemplo, certos fatos, a criança recém-nascida, ela é completamente dependente de tudo (sup./inint.)
L
 (sup.) É.
D
 Com um ano já acontecem várias coisas, não é?
L
 É (sup.)
D
 (sup.) Com dois, três anos, vão ocorrendo mais outras coisas.
L
 É, a primeira coisa no desenvolvimento da criança é a descoberta, a coisa mais interessante é a descoberta das mãos, não é? Quando ela descobre as mãos, ela acha aquilo interessantíssimo. Ela descobre as mãos. Depois, então, aí ela começa a descobrir as outras coisas, né, né? Já com, mais velhinha já começa a saber os dentes, o cabelo, já quer pentear o cabelo, né? Quer dizer, já começa o desenvolvimento da criança. Agora eu acho que o desenvolvimento em geral, elas são parecidas, de uma pra outra.
D
 A senhora teve assim, observou a descoberta, por exemplo, de sexo nessas crianças. Quando elas descobrem, elas se identificam com um dado sexo, a criança costuma pôr sentido em certos hábitos, ela costuma fazer perguntas. A senhora teve perguntas dessas (sup.)
L
 (sup.) Muitas perguntas. Tive muitas perguntas.
D
 Quais?
L
 Muitas perguntas. Ela, por exemplo ... Com as minhas propriamente eu não tive muito problema porque eu as eduquei mais ou menos naturalmente, não sabe? Ela, por exemplo, me perguntava: por que a fulana casou e agora está com uma barriga grande? Eu aí expliquei a ela: porque ela vai ter um nenezinho, está entendendo, vai ter um nenezinho. Por, ela casou e só pode depois que casar ter o nenezinho. E ela disse, então ela perguntava: é um nenezinho feito eu? Eu digo: vai ser menorzinho que você. Essa era uma perguntadora dana... tremenda. Menorzinho do que você. Ela aí virou e: mas eu não quero casar, que quando casa fica muito feia, com uma barriga muito grande, (riso) eu não quero casar, eu acho que quando casa fica muito feia. Mas eu digo: mas não fica toda a vida, depois que o nenê nascer, isso normaliza. Quer dizer, ela queria saber de tudo, quer dizer, ela não, aí ela fica satisfeita, ela tinha apenas dois anos e meio, ficou satisfeita. Quando a vizinha casou, aí ela não me perguntou mais nada, encarou normalmente. A outra da mesma maneira. Quer dizer, eu nunca enganei, nunca disse que era a cegonha, nunca nada disso.
D
 E a idéia assim de percepção que há uma diferença entre ser menina e ser menino.
L
 A menina, eu criei um menino, né, que é meu sobrinho, a menina é mais maliciosa. Nem tem comparação. A menina, por exemplo, você se despe na frente dela, eu estou falando um pouco, eu não sei se é assim que pode falar (sup.)
D
 (sup.) Pode. Fala exatamente desse jeito.
L
 Se despe na frente dela, ela, ela é curiosa, ela é curiosa, ela pergunta o que é isto, o que é aquilo, por que há pelos, por que não há? O menino, não, o menino não liga, não liga mesmo, está entendendo? Ele dormia comigo, da mesma maneira, e não fazia as mesmas perguntas. No entanto, bem inteligente, bem inteligente. Mas não fazia as mesmas perguntas. A menina é mais astuta, é mais curiosa, vamos dizer assim, do que o ... Eu acho. Quer dizer, na minha família pelo menos, né, no convívio que eu tenho com os sobrinhos e com os filhos, eu as considero filhas, não é, eh, as meninas são mais curiosas, bem mais curiosas do que os rapazes.
D
 A, a minha garota, por exemplo, ela teve uma fase em que ela ficou muito preocupada, assim, de como é que ela ia desenvolver. A idéia assim de, por exemplo, do quando a criança, eh, toma consciência de que ela vai ser como é a mãe dela, se ela é uma menina, vai ser como o pai dela, quando é um menino.
L
 É.
D
 A senhora teve assim esse tipo de perguntas de crianças no sentido de ...
L
 Olha, eu tenho uma sobrinha (sup.)
D
 (sup.) Até, até entre crianças mesmo.
L
 Entre crianças. Olha, eu tinha uma sobrinha, por exemplo, que ela, a preocupação dela era de ser bonita, porque ela achava a mãe muito bonita. Então ela de vez em quando ela perguntava: eu vou ser bonita igual a minha mãe? É bonita, sim. Daí eu dizia: vai, vai ser bonita igual a sua mãe. Ela tinha essa pergunta. Agora sobre desenvolvimento assim, eu, que eu me recorde, eu não tenho idéia de elas terem feito assim perguntas.
D
 Mas as crianças quando chegam a uma determinada idade, doze, treze ou quatorze anos, tanto quando é um menino quanto quando é uma menina, eles, não sei se ainda sofrem, mas normalmente, pelo menos a minha geração, sofria um certo choque, com uma modificação muito grande física (sup.)
L
 (sup.) Sofre, em geral sofre.
D
 O que que a senhora observou nessa idade (sup.)
L
 (sup.) Observei. Sofre. Uma, uma, por exemplo, ficou taciturna, ficou mais triste. A outra ficou mais alegre. Engraçado, criadas da mesma maneira. Uma ficou mais triste com o desenvolvimento, a outra ficou mais alegre (sup.)
D
 (sup.) Agora, eles faziam perguntas ou não, não transparecia essa preocupação com a modificação (sup.)
L
 (sup.) Hoje em dia, olha, eu vou lhe dizer, hoje em dia elas não fazem muita pergunta porque nos próprios colégios elas já estão muito, vamos dizer, orientadas. Quer dizer que em casa você não tem o mesmo trabalho que você tinha antigamente. A minha mãe, por exemplo, era uma pessoa que não tinha curso além do primário, mas era uma pessoa muito inteligente e ela nos orientava muito bem. Agora, conversava conosco, explicava, tudo isso.
D
 Explicava o quê (sup./inint.)
L
 (sup./inint.) explicava, eh, explicava quando fosse ser moça, o que que ia acontecer, está compreeendendo, explicava tudo direitinho pra nós, não é? Agora, hoje em dia já não há essa necessidade.
D
 E a senhora teve esse problema com os adolescentes (sup.)
L
 (sup.) Eu não tive esse problema não, porque as meninas, quando elas estavam no colégio, as professoras se incumbiram de explicar tudo. Quer dizer, que elas chegaram em casa, aquilo já era encarado com naturalidade. Elas ficaram mocinhas, está entendendo, relativamente cedo, uma com onze anos, outra com doze anos, não é, saíram da, da, da meninice, vamos dizer, pra puberdade e, mas com simpli... simplicidade, que no colégio já haviam explicado.
D
 Ficar moça siginifica o quê, elas ficaram mocinhas?
L
 Elas ficaram menstruadas, né? É, ficaram menstruadas.
D
 Ah, sim. Como é que elas comunicaram, comunicaram pra senhora?
L
 Comunicaram, não sabe?
D
 Como?
L
 Com a maior naturalidade do mundo. Chegaram e disseram assim: mamãe, nós estamos assim, não somos mais, eu não sou mais uma delas, eu não sou mais criança. Como a professora disse, eu não sou mais criança, agora já tenho que ter outros modos, até maneira de falar, (riso) até maneira de falar, que já não sou mais criança. Assim elas me, uma delas me comunicou.
D
 E a outra?
L
 A outra não, porque a outra já tinha a, a outra, a outra foi muito interessante, porque a outra me enganou. Disse que era moça e não era. Tinha uma loucura pra ser moça. Então ela disse, fez eu comprar, ah, material pra ela, Modess, né, fez eu comprar, tudo. E eu comprei (riso) pensando que ela já era uma mocinha. (riso) Não era. Mas é porque via a irmã e ela então queria se comparar.
D
 Agora, não é só a menstruação, né, pra menina, a modificação física, não é, não é só a menstruação uma, uma novidade. Existem outras coisas que aparecem.
L
 Não, não é só novidade, é o busto, também, os seios, né, também. Ela, por exemplo com, quando fez isso, fez questão absoluta que eu comprasse sutiã. Não havia necessidade porque elas eram muito magrinhas, está entendendo, não havia necessidade, mas ela fez questão absoluta que eu comprasse, está entendendo? Porque achou que estava na hora de botar e de usar, né? Era muito interessante. (riso) Todas duas.
D
 Uma outra coisa também que é assim. A mulher passa por uma evolução muito mais marcada (sup.)
L
 (sup.) Marcada (sup.)
D
 (sup.) Do que o homem, e há uma certa idade também em que a mulher, digamos, depois dos quarenta, quarenta e cinco, cinqüenta anos, ela entra numa outra fase, que às vezes vem acompanhada também de modificações.
L
 De modificações. É. É a, é a idade da menopausa, chamada, né? Depois de quarenta anos, toda, a mulher entra na idade da menopausa. Isso, isso, às vezes vem acompanhado até de sistema nervoso. Há criaturas que não se conformam, não é, porque isso, acham que isso é um envelhecimento, não sabe? Quando eu, por exemplo, acho que envelhecimento, não é, não é o físico, não é, é o mental, pra mim envelhecimento é mental, não físico. (riso) Isso é uma questão de opinião, né? (riso) E passam por essas fases. Agora, há umas que se revoltam contra os filhos, principalmente se têm filha moça. Ficam achando que a filha é mais bonita, que a filha é jovem, isso é comum, isso é comum. Isso eu tenho presenciado, não é, de que a mãe não fica tão amiga da filha depois de uma certa idade, porque ela tem inveja da filha. Tem inveja porque a filha é moça, a filha é, é tão bonita quanto ela e ficou muito mais, vamos dizer, vivacidade, com muito mais procura do, do outro sexo, né, (riso) e, quer dizer que ela, às vezes ela se revolta. Isto é comum, né? Às vezes pessoas boas, pessoas ... Mas, eh, independe da vontade, independe da vontade.
D
 Muitas vezes há também assim fisicamente repercussões.
L

  Repercussões, muitas. Abatimento físico é muito normal depois de quarenta anos, né? Principalmente se a pessoa se preocupa, se preocupa com, com o envelhecimento, é mais rápido, eu acho que é mais rápido. Quer dizer, isso é uma observação dos meus cinqüenta e sete anos, não é nada, vamos dizer, isso é apenas uma observação. Eu acho que as pessoas mais preocupadas, está entendendo, sofrem mais. Você repare que sofrem mais. Vocês vão ver pela, pela ... Sofrem mais. Eu não sei, procuram assim disfarçes e procuram maneiras de não parecer velhas, não sabe, e envelhecem mais, envelhecem mais.